08 setembro, 2010

resgates

Moreno e Durvinha (foto de Leonardo Lara)
Leio no jornal que morreu, aos 100 anos, um dos últimos cangaceiros do bando de Lampião, José Antônio Souto, o Moreno. Ele morreu 2 anos depois da mulher, a Durvinha, com quem convivia desde os tempos do cangaço. Nos anos 30, o casal fugiu de Brejo Santo, no sertão do Ceará, para Minas Gerais, deixando para trás a vida de crime. Moreno tornou-se um trabalhador e pai exemplar de 5 filhos. Durante 70 anos ele guardou silêncio sobre seu passado, inclusive para os filhos. Mas, em 2005, com problemas de saúde, Moreno teve um "surto" de remorsos e confessou tudo: a condição de ex-cagaceiro, ter matado muita gente e ter abandonado um filho por acasião de uma fuga, que foi entregue a um padre de Tacaratu, em Pernambuco. Aí começa uma história de resgate: uma das filhas, Nely, saiu em busca desse irmão deixado para trás, e depois de muita procura o encontrou no Rio de Janeiro. Moreno foi perdoado, tanto que o filho compareceu ao enterro do pai, ontem em Belo Horizonte. E mais: em 2006 Moreno voltou à terra natal, Brejo Santo, e foi recebido como herói, deu muitas entrevistas e contou toda a sua história, desde a época em que sonhava em ser policial e terminou entrando para o bando de Lampião.
Fiquei pensando como tudo isso permitiu a Moreno morrer mais leve. O dia em que ele resolveu confessar aos filhos sua verdade salvou sua vida e sua morte e permitiu a toda a familia sair da sombra para a luz. Como diria Jung, tudo que escondemos, tudo que tentamos transformar em segredo, nos aprisiona, vira um monstro interior que bloqueia os caminhos.

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