28 agosto, 2010

palpite político

Mesmo com Tiririca e outras barbaridades do HEG, é bom ter DEMOCRACIA.
Pra mim só não vale o voto ser obrigatório.

26 agosto, 2010

Pessoa

Um motivo para ir a São Paulo: a exposição interativa "Fernado Pessoa, plural como o universo", no Museu da Língua Portuguesa, que abriu esta semana e fica até 30 de janeiro de 2011.
Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Bernardo Soares estão lá.
Ophelia Queiroz, único amor público do escritor, também. E todas as maravilhas de uma literatura jamais superada.
Na mostra, é possível ver a reprodução virtual e interativa da primeira edição de "Mensagem", a única obra que Pessoa publicou em vida (1888-1935).
Depois de São Paulo, a exposição segue para o Rio, em março de 2011.



"Eu sou muitos"

Fernando Pessoa

25 agosto, 2010

O caso das barracas, o maior barraco do ano em Salvador

Sou contra a privatização das praias de Salvador e de qualquer lugar do mundo. Logo, me coloco a favor da decisão judicial que determinou a derrubada das barracas. Não admito que, em nome da “geração de empregos”, sejam cometidos crimes ambientais. No caso das barracas, é bom esclarecer que os empregos eram poucos, a oferta, em sua maioria, era de bicos mal-remunerados, num esquema de exploração. Os donos faturando muito bem, e garçons, cozinheiras e seguranças ganhando uma miséria, sem direitos trabalhistas. 

É claro que vou sentir falta da barraca do Loro, da Goa e outras que freqüentava, mas elas vão voltar... espero que em localizações mais apropriadas (quem acha certo construções de concreto na areia da praia, cada vez maiores?) e em condições ambientais corretas, em termos de coleta de esgoto, lixo etc.

Morei na Pedra do Sal a poucos passos da praia, e testemunhei a enorme quantidade de lixo que ficava na areia depois de um domingo de sol. À noite, tinha pavor de ir até a praia: ratazanas enormes tomavam conta da areia!  Estou até preocupada com essas milhares de ratazanas esfomeadas invadindo os bairros da orla, já imaginou? 

Na moral, está na hora de se fazer um trabalho sério de educação ambiental em Salvador, a maneira que a maioria dos moradores trata o lixo me revolta. É uma questão, acima de tudo, cultural. Mas, na boa, quem se acostumou a comer seu caranguejo nas barracas e jogar os restos na areia um dia vai ter que se tocar! E os caras que se achavam os donos do pedaço, agora vão ter que se enquadrar. 

Como já era de se esperar, a participação da prefeitura no episódio foi a mais cruel omissão. Os barraqueiros tinham licença, pagavam impostos municipais, então já deveriam ter sido apresentadas soluções e alternativas para a situação deles, antes de chegar o prazo-limite da demolição, anunciada há meses. O prefeito João Henrique, que inventou a reforma da orla com barracas de alvenaria, provocando a reação da justiça federal, cruzou os braços.

O pior: o povo está revoltado, e com razão, uma vez que a questão social não foi levada em conta. O caso das barracas se tornou mais um gerador de violência na cidade já tão violenta.

Na minha opinião, o erro não foi a demolição, e sim a forma radical e impiedosa como ela foi feita, semelhante a um ato terrorista.

22 agosto, 2010

20 agosto, 2010

dois dedos de prosa

Trabalho numa fábrica de notícias.
Todo dia ao chegar bato meu cartão de ponto, entro no sistema, ocupo meu lugar na linha de produção etc.
Ontem tive um pequeno acidente. Uma fita caiu dentro da máquina de edição e fui tentar pegar. Cortei o dedo, saiu muito sangue, fiquei aflita, mas voltei a trabalhar. Lamentando o acidente com o colega, meio chorosa, ele me mostrou dois dedos decepados aos oito anos quando cortava coco com um facão. Trabalho com ele há anos, nunca tinha reparado. Só sei que de vítima passei a pessoa mais feliz do mundo.
Às vezes essas coisas acontecem comigo para eu deixar de ser besta.

13 agosto, 2010


 Uma das vantagens de morar perto da praia é poder sentar na areia e ficar olhando os surfistas em sua arte de flutuar sobre as ondas. Movimentos precisos, balé sobre as águas. De vez em quando, levam um caldo, mergulham fundo, mas no instante seguinte já estão lá em cima outra vez, equilibrados, prontos para o que der e vier. Saturados de mar, de azul, de luz e de céu. Plenos. Solitários. Bonitos. Lembro do tempo em que namorei um surfista, ele ia para a água e eu ficava na areia, perfeita harmonia. Quando senti que era hora de terminar o romance, hesitei – não queria romper com o mar. Continuei, então, amante fiel, não mais do surfista, mas das ondas.

06 agosto, 2010

tempo, tempo


Vivendo em Salvador, percebi que em frente às casas de candomblé de matriz jeje-nagô existem grandes árvores envoltas em um pano branco. Trata-se do Iroko, que representa o tempo. É a árvore primordial, a primeira dádiva da terra aos homens, que existe desde o princípio e a tudo assistiu, a tudo resistiu, a tudo resistirá. O Iroko simboliza a permanência dentro da impermanência.

"O tempo dá, o tempo tira, o tempo passa e a folha vira".

Para receber os dons, é preciso abrir espaços e se alinhar ao tempo favorável, alertam os orixás.

Já no candomblé de nação Congo-Angola, o Tempo é um inquice, entidade sagrada, o senhor do infinito. É representado por uma bandeira branca atada a um mastro de bambu, que pode ser vista de longe. Tempo soma e subtrai e é o que fica. As horas passam pelo som de sua risada.

04 agosto, 2010

Oração ao Tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definitivo
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo

Tempo tempo tempo tempo...

(Caetano Veloso)

Pretextos

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