20 dezembro, 2010

vibrando para o verão

Você Merece Samba
Carlinhos Brown

Você não merece sofrer
Merece samba
Os olhos são portas saídas de um coração
Então você pode chorar
Do novo o amor chegará
Encantado, encarnado, esculpido pelo mar

Você não merece ilusão
Merece beijos
Um jeito, um fato novo, um salto, um solar
Pra que visitar solidão
Na borda infinita de um copo de bar
Se eu posso fazer o que posso
Lhe fazer sonhar.

05 dezembro, 2010

O Sarau da UQT ... e o tempo.



Um pouco de delicadeza em nossos tempos de horrores e temores.
É o sarau da UQT, Uma Questão de Texto, grupo de escritoras de Salvador que se reúne duas vezes por mês para trocar expeiências sobre literatura e sobre viver. Duas vezes por ano, elas promovem um encontro em um local muito agradável, com música, prosa, poesia e fantasia. O espaço é aberto a todos que queiram se expressar e o resultado é como um oásis no nosso dia-a-dia tão árido.
Parabéns a Tereza Cristina, Ana Aurélia, Bete, Fernanda, Lica, Lilia, Mary, Sílvia e Sumaia por darem vida a tantas palavras que andam por aí querendo ser ouvidas. Cá estou eu para apreciá-las.
Contato com o grupo: 71.3358-9590.

No sarau de ontem, despedida de 2010, o tema foi o tempo, meu velho amigo.
Reproduzo aqui um dos poemas apresentados que curti muito.

VIDA/ TEMPO

Quem tem olhos pra ver o tempo?
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?

O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina.
Sem raiva nem rancor

O tempo riscou meu rosto com calma

Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante.
Eu acho que ganhei presença.

Eu acho que a vida anda passando a mão em mim.
Eu acho que a vida anda passando. Acho que a vida anda passando
Acho que a vida anda. A vida anda em mim. A vida anda. Eu acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Eu acho que a vida anda passando a mão em mim.

E por falar em sexo, quem anda me comendo é o tempo.
Se bem que já faz tempo, mas eu escondia
Porque ele me pegava à força, e por trás.
Até que um dia resolvi encará-lo de frente e disse:
Tempo, se você tem que me comer, que seja com meu consentimento
e me olhando nos olhos.
Acho que ganhei o tempo. De lá pra cá ele tem sido bom comigo.
Dizem que ando até remoçando.

Do livro Pensamento do Chão, de Viviane Mosé

02 dezembro, 2010

vivendo e aprendendo (ou pedindo pra explicar de novo)

Precisou eu querer fazer um mestrado para descobrir que sou "burrinha".
Puxa, isso me libertou de uma série de coisas e me deu mais vontade de ser feliz.
Acho até que vou passar no salão e dar uma clareadinha no cabelo.


27 novembro, 2010

Esto Es Amor



Trecho do filme Lope, de Andrucha Waddington, sobre o escritor espanhol Félix Lope de Vega.

Esto Es Amor

Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde, animoso;

no hallar fuera del bien centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso;

huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor suave,
olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengaño:
esto es amor: quien lo probó lo sabe.

Lope de Vega

Chega!

11 novembro, 2010

08 novembro, 2010

Carybé por Jorge Amado


"Quando tudo se faz na Bahia para degradar a grandeza da cidade, roubar-lhe o verde das árvores, a brisa do mar, as velas dos saveiros, poluir o céu e as praias, matar os peixes e reduzir os pescadores à miséria, quando agridem a paisagem a cada momento, com espantosos edifícios rompendo a harmonia dos locais mais belos, fazendo da Lagoa do Abaeté e da doçura de Itapuã, cantadas por Caymmi, caminhos do lucro imobiliário sem o menor controle, quando tantas forças se juntam para destruir a cidade da Bahia, construída no oriente do mundo, onde os sangues se misturam para criar a nação brasileira, nessa hora de agonia e vileza, Oba Onã Xocum, dito Carybé, nascido Heitor Júlio Páride de Barnabó na primeira encarnação, tomou dos instrumentos, da goiva, do formão, do macete, dos materiais mais nobres, a madeira, o cimento, o barro, e, armado com a força dos orixás, fixou para sempre a face da verdadeira Bahia, a que está sendo assassinada. Quando nada mais restar de autêntico, quanto tudo já se fizer apenas representação, mercadoria, e transformar-se em dinheiro na sociedade de consumo, a memória perdurará pura, pois o filho de Oxóssi e de Oxum, o Obá de Xangô, guardou a verdade íntegra na criação de uma obra sem igual pela autenticidade, pela beleza, feita com as mãos, o talento e o coração".


Jorge Amado, no livro Bahia de Todos os Santos, Guia de Ruas e Mistérios, editado em 1912.

04 novembro, 2010

Os Dog Models


Matéria publicada na coluna "Mônica Bergamo" / Folha Ilustrada 10/10/10
(fiquei besta!!!)



" Durou pouco a carreira de modelo de Charlie. Fino, elegante, corpo sarado, "cabelos" cuidados, ele teve sua primeira experiência nas passarelas há alguns meses, ao ser contratado para desfilar, fotografar e participar de filmes de publicidade do portal de internet iG. Fez sucesso ao chegar ao trabalho cercado por seguranças particulares. O cachê era gordo: R$ 10 mil por um único dia de trabalho. Deu tudo errado. "Quando chegou em casa ele vomitou, fez cocô fora do lugar, não dormiu a noite inteira", diz a "mãe" de Charlie, a empresária Sandra Habib, representante da Aston Martin e da Jaguar no Brasil.

Chegava ao fim a carreira meteórica de "dog model" do pequeno cão, um west highland de cinco anos. "Ele saiu de casa ao meio-dia. Quando voltei do meu trabalho, às 21h, cadê Charlie? Como Charlie ainda não chegou? Ele só voltou de madrugada, à 1h", diz Sandra. "Graças a Deus ele não precisa disso, né, coitadinho."

Para combater o estresse de Charlie, Sandra pediu socorro à veterinária Daniela Cervelatti, de uma clinica especializada em tratamentos alternativos para animais como acupuntura, reike, massagem, quiropraxia, florais de Bach e homeopatia. "A dona Sandra disse que ele estava com diarreia, mas era só preocupação", diz Daniela.

Com a carreira interrompida, ele agora leva uma vida mansa. Uma vez por mês, faz massagem, reike, acupuntura e quiropraxia para prevenir problemas de saúde. A alimentação é equilibrada. "Come arrozinho, cenourinha, bifinho, franguinho, salmão. Proteína, carboidrato e legumes", diz Sandra.

Há duas semanas, Charlie embarcou em um jatinho particular com a dona, que viajou a negócios para França, China e Portugal (quando viaja de avião de carreira, ela escolhe companhias aéreas que aceitam que se leve cães em poltronas da primeira classe). Charlie foi, mas a cabeça ficou no Brasil. Em três meses, ele será papai pela primeira vez. A mãe se chama Cristal, uma west highland terrier de três anos.

Charlie e Cristal se conheceram nos bastidores da fama. Ela pertence ao treinador e agente dele, Luis Oliveira, da Alternativa's Dog Show, uma agência de cães-modelos que conta com um casting de cerca de 700 animais. São celebridades como Jackelino, o jack russel da atriz Gabriela Duarte, e os west highland terrier do cabeleireiro Celso Kamura, Alê e Donna, batizados assim em homenagem aos estilistas Alexandre Herchcovitch e Donna Karan.

O casal deve ter cinco filhotes, a média de uma ninhada dessa raça. Cada um deles deve ser vendido por R$ 3.000. "Há dez anos, quando essa raça foi para a mídia por causa da propaganda, o valor do filhote dobrou", diz Oliveira.

A estrela da agência de Oliveira é Wind, uma jack russel de 15 anos, desde os dois meses de idade na frente das câmeras. "Já fez mais de 2.000 campanhas", diz Oliveira, que financiou com os cachês da cadela boa parte do seu centro de treinamento de animais, num terreno de 6.000 m2 em Santo André.

Ela, que já fez filme da Xuxa, foi "garota-propaganda" da Bayer e fez um comercial da Skol, está hoje aposentada. Segundo Oliveira, o auge de sua carreira foi quando ela estampou a capa da revista "Focinhos", "a revista "Caras" dos cães".

Com a experiência, Wind adquiriu regalias. Quando estava na ativa, tinha direito a camarim exclusivo, "com água de coco e petiscos", e hora marcada para sair do set de filmagens.

"Ela tem fãs pelo Brasil. Já ganhou perfumes, caixa de joias, coleiras. Quando alguma empresa lança produto para cachorro, sempre manda para a Wind. Faz questão que ela use", diz Oliveira. Wind, que participava de shows de truques de animais, já fez até tarde de autógrafos. "A gente molhava a patinha num carimbo e colocava sobre uma foto."

Estopinha, de dois anos, não dá autógrafos, mas tem uma trajetória parecida com a de algumas top models. Nasceu pobre, sem raça definida, até ser descoberta em um abrigo de animais pelo adestrador Alexandre Rossi, que apresenta com ela o quadro "Dr. Pet", do "Domingo Espetacular", da Record. Hoje, acompanha o dono em palestras que custam R$ 10 mil, mais passagem aérea e hospedagem. "Nas gravações, ela tem figurinista, que passa a roupinha e leva uma troca a mais, caso se suje."

Rossi tem um casting de cerca de 200 cães, alguns deles descobertos por meio do site de sua empresa, Cão Cidadão, que tem uma ficha de inscrição destinada aos que desejam ver seus animais em uma campanha. "Mas só dá para aproveitar 20%. Muitos cães não estão aptos para a carreira."

Há também o desgaste de imagem, comum na vida de modelos. "O cão que faz um trabalho marcante não é mais escolhido. A [propaganda da] Cofap foi tão marcante que ninguém mais quis usar a raça daschund [os salsichas] nas campanhas", diz o treinador Jayro Mattos Por causa da idade avançada e de tanto trabalhar, Wind hoje sofre de uma lesão na coluna. Faz esteira aquática regularmente na clínica de tratamentos alternativos de Daniela.

O clima do espaço é zen. Durante as sessões, que duram entre 20 minutos e uma hora, Daniela coloca o CD "Relaxing Your Dog" (relaxe o seu cão) com as canções "Controlando a Ansiedade", "Superando a Solidão", "Portal dos Sonhos" e "Nas Horas Difíceis". A terapia custa R$ 70.



Os gastos valem a pena no mercado dos modelos caninos. Para os animais que estão começando, o piso do cachê é de R$ 100. Mas os valores podem chegar a R$ 20 mil. "A média é R$ 3.000. Quando é só foto é mais barato, uns R$ 1.000, pois é mais rápido. Quando é longa-metragem é ainda mais barato, cerca de R$ 500."

O pessoal de cinema não tem muita verba. Tenho cota de quatro filmes por ano", diz Oliveira, da Alternativa's Dog, que agencia cerca de seis comerciais por mês.

O empresário já recebeu algumas propostas indecentes. "Clientes já me ligaram perguntando se eu não conhecia uma cadelinha limpinha, vira-lata, para o cachorro dele perder a virgindade". O serviço foi recusado".

25 outubro, 2010

moda

Me perguntaram se eu curto moda.
Curto, sim, no que é arte, estética, atitude.
Não gosto de moda no que é futilidade, consumismo, alienação.

16 outubro, 2010

o que mais veio à tona

Em toda grande notícia, são os pequenos fatos que me impressionam. Vejam só esse caso dos mineiros chilenos. Se não fosse o acidente que deixou os 33 homens presos nas profundezas da mina San Jose durante 69 dias, até o resgate espetacular no último dia 13, Marta Salinas talvez nunca viesse a saber que seu marido há 28 anos, Yonni Rojas, tinha uma amante. Só que, além dela, o mundo inteiro ficou sabendo. Talvez para evitar tamanho vexame midático, ela não foi ao salvamento, deixando que "a outra", Susana Valenzuela, recebesse com beijos e abraços o operário. Marta soube da existência de Suzana quando as duas se encontraram depois do acidente, chorando pelo mesmo homem. Ela declarou à imprensa que não assistiria ao resgate do marido nem pela TV, embora tenha ficado feliz por ele ter sobrevivido. Há uma metáfora e um simbolismo aí, daquilo que, escondido nas profundezas, vem à superfície. Agora, ninguém sabe qual será o destino desse triângulo amoroso. Nem vai saber. A imprensa, depois do drama e do resgate das vítimas, já partiu em busca de outras notícias. Mas bem que eu queria continuar acompanhando essa novela!

12 outubro, 2010

ελευθερία

seus argumentos não me convencem, mas mesmo assim digo que aceito, não tenho direito de duvidar, de exigir, não dou nada em troca, não tenho tempo, não tenho paz, agora não é hora, então espere, que um dia talvez possa ser sua, inteiramente nua, mas hoje não me peça nada, me deixe livre, há um mundo a desvendar, outros homens a amar, não me siga, não me adicione, diminua, multiplique ou divida, estou na vida, atrevida, comigo e sem ninguém, comigo e com todos, sem deus e sem lei, mas eu sei, já fui de alguém, e hoje quero ser minha.

11 outubro, 2010

Breve perfil do eleitor brasileiro

135.804.433 eleitores.

53,5% não completaram o ensino fundamental.
5,9% são analfabetos.
3,8% têm nível superior.

Sem comentários.

08 outubro, 2010

sampa



Alguma coisa acontece em meu coração....

upgrade

Depois de uma certa idade, a gente tem que reiventar a vida toda, senão começa a morrer. É com alegria que sinto que estou renascendo.

02 outubro, 2010

28 setembro, 2010

Gasto uma energia danada tentando proteger meus sonhos das ilusões e fantasias.
Nem sempre consigo.

19 setembro, 2010

08 setembro, 2010

resgates

Moreno e Durvinha (foto de Leonardo Lara)
Leio no jornal que morreu, aos 100 anos, um dos últimos cangaceiros do bando de Lampião, José Antônio Souto, o Moreno. Ele morreu 2 anos depois da mulher, a Durvinha, com quem convivia desde os tempos do cangaço. Nos anos 30, o casal fugiu de Brejo Santo, no sertão do Ceará, para Minas Gerais, deixando para trás a vida de crime. Moreno tornou-se um trabalhador e pai exemplar de 5 filhos. Durante 70 anos ele guardou silêncio sobre seu passado, inclusive para os filhos. Mas, em 2005, com problemas de saúde, Moreno teve um "surto" de remorsos e confessou tudo: a condição de ex-cagaceiro, ter matado muita gente e ter abandonado um filho por acasião de uma fuga, que foi entregue a um padre de Tacaratu, em Pernambuco. Aí começa uma história de resgate: uma das filhas, Nely, saiu em busca desse irmão deixado para trás, e depois de muita procura o encontrou no Rio de Janeiro. Moreno foi perdoado, tanto que o filho compareceu ao enterro do pai, ontem em Belo Horizonte. E mais: em 2006 Moreno voltou à terra natal, Brejo Santo, e foi recebido como herói, deu muitas entrevistas e contou toda a sua história, desde a época em que sonhava em ser policial e terminou entrando para o bando de Lampião.
Fiquei pensando como tudo isso permitiu a Moreno morrer mais leve. O dia em que ele resolveu confessar aos filhos sua verdade salvou sua vida e sua morte e permitiu a toda a familia sair da sombra para a luz. Como diria Jung, tudo que escondemos, tudo que tentamos transformar em segredo, nos aprisiona, vira um monstro interior que bloqueia os caminhos.

03 setembro, 2010

O Sono Antecedente

Parai tudo que me impede de dormir:
esses guindastes dentro da noite,
esse vento violento,
o último pensamento desses suicidas.
Parai tudo o que me impede de dormir:
esses fantasmas interiores que me abrem as pálpebras,
esse bate-bate de meu coração,
esse ressonar das coisas desertas e mudas.
Parai tudo que me impede de voltar ao sono iluminado
que Deus me deu
antes de me criar.

Jorge de Lima

28 agosto, 2010

palpite político

Mesmo com Tiririca e outras barbaridades do HEG, é bom ter DEMOCRACIA.
Pra mim só não vale o voto ser obrigatório.

26 agosto, 2010

Pessoa

Um motivo para ir a São Paulo: a exposição interativa "Fernado Pessoa, plural como o universo", no Museu da Língua Portuguesa, que abriu esta semana e fica até 30 de janeiro de 2011.
Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Bernardo Soares estão lá.
Ophelia Queiroz, único amor público do escritor, também. E todas as maravilhas de uma literatura jamais superada.
Na mostra, é possível ver a reprodução virtual e interativa da primeira edição de "Mensagem", a única obra que Pessoa publicou em vida (1888-1935).
Depois de São Paulo, a exposição segue para o Rio, em março de 2011.



"Eu sou muitos"

Fernando Pessoa

25 agosto, 2010

O caso das barracas, o maior barraco do ano em Salvador

Sou contra a privatização das praias de Salvador e de qualquer lugar do mundo. Logo, me coloco a favor da decisão judicial que determinou a derrubada das barracas. Não admito que, em nome da “geração de empregos”, sejam cometidos crimes ambientais. No caso das barracas, é bom esclarecer que os empregos eram poucos, a oferta, em sua maioria, era de bicos mal-remunerados, num esquema de exploração. Os donos faturando muito bem, e garçons, cozinheiras e seguranças ganhando uma miséria, sem direitos trabalhistas. 

É claro que vou sentir falta da barraca do Loro, da Goa e outras que freqüentava, mas elas vão voltar... espero que em localizações mais apropriadas (quem acha certo construções de concreto na areia da praia, cada vez maiores?) e em condições ambientais corretas, em termos de coleta de esgoto, lixo etc.

Morei na Pedra do Sal a poucos passos da praia, e testemunhei a enorme quantidade de lixo que ficava na areia depois de um domingo de sol. À noite, tinha pavor de ir até a praia: ratazanas enormes tomavam conta da areia!  Estou até preocupada com essas milhares de ratazanas esfomeadas invadindo os bairros da orla, já imaginou? 

Na moral, está na hora de se fazer um trabalho sério de educação ambiental em Salvador, a maneira que a maioria dos moradores trata o lixo me revolta. É uma questão, acima de tudo, cultural. Mas, na boa, quem se acostumou a comer seu caranguejo nas barracas e jogar os restos na areia um dia vai ter que se tocar! E os caras que se achavam os donos do pedaço, agora vão ter que se enquadrar. 

Como já era de se esperar, a participação da prefeitura no episódio foi a mais cruel omissão. Os barraqueiros tinham licença, pagavam impostos municipais, então já deveriam ter sido apresentadas soluções e alternativas para a situação deles, antes de chegar o prazo-limite da demolição, anunciada há meses. O prefeito João Henrique, que inventou a reforma da orla com barracas de alvenaria, provocando a reação da justiça federal, cruzou os braços.

O pior: o povo está revoltado, e com razão, uma vez que a questão social não foi levada em conta. O caso das barracas se tornou mais um gerador de violência na cidade já tão violenta.

Na minha opinião, o erro não foi a demolição, e sim a forma radical e impiedosa como ela foi feita, semelhante a um ato terrorista.

22 agosto, 2010

20 agosto, 2010

dois dedos de prosa

Trabalho numa fábrica de notícias.
Todo dia ao chegar bato meu cartão de ponto, entro no sistema, ocupo meu lugar na linha de produção etc.
Ontem tive um pequeno acidente. Uma fita caiu dentro da máquina de edição e fui tentar pegar. Cortei o dedo, saiu muito sangue, fiquei aflita, mas voltei a trabalhar. Lamentando o acidente com o colega, meio chorosa, ele me mostrou dois dedos decepados aos oito anos quando cortava coco com um facão. Trabalho com ele há anos, nunca tinha reparado. Só sei que de vítima passei a pessoa mais feliz do mundo.
Às vezes essas coisas acontecem comigo para eu deixar de ser besta.

13 agosto, 2010


 Uma das vantagens de morar perto da praia é poder sentar na areia e ficar olhando os surfistas em sua arte de flutuar sobre as ondas. Movimentos precisos, balé sobre as águas. De vez em quando, levam um caldo, mergulham fundo, mas no instante seguinte já estão lá em cima outra vez, equilibrados, prontos para o que der e vier. Saturados de mar, de azul, de luz e de céu. Plenos. Solitários. Bonitos. Lembro do tempo em que namorei um surfista, ele ia para a água e eu ficava na areia, perfeita harmonia. Quando senti que era hora de terminar o romance, hesitei – não queria romper com o mar. Continuei, então, amante fiel, não mais do surfista, mas das ondas.

06 agosto, 2010

tempo, tempo


Vivendo em Salvador, percebi que em frente às casas de candomblé de matriz jeje-nagô existem grandes árvores envoltas em um pano branco. Trata-se do Iroko, que representa o tempo. É a árvore primordial, a primeira dádiva da terra aos homens, que existe desde o princípio e a tudo assistiu, a tudo resistiu, a tudo resistirá. O Iroko simboliza a permanência dentro da impermanência.

"O tempo dá, o tempo tira, o tempo passa e a folha vira".

Para receber os dons, é preciso abrir espaços e se alinhar ao tempo favorável, alertam os orixás.

Já no candomblé de nação Congo-Angola, o Tempo é um inquice, entidade sagrada, o senhor do infinito. É representado por uma bandeira branca atada a um mastro de bambu, que pode ser vista de longe. Tempo soma e subtrai e é o que fica. As horas passam pelo som de sua risada.

04 agosto, 2010

Oração ao Tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definitivo
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo

Tempo tempo tempo tempo...

(Caetano Veloso)

Pretextos

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