04 novembro, 2010

Os Dog Models


Matéria publicada na coluna "Mônica Bergamo" / Folha Ilustrada 10/10/10
(fiquei besta!!!)



" Durou pouco a carreira de modelo de Charlie. Fino, elegante, corpo sarado, "cabelos" cuidados, ele teve sua primeira experiência nas passarelas há alguns meses, ao ser contratado para desfilar, fotografar e participar de filmes de publicidade do portal de internet iG. Fez sucesso ao chegar ao trabalho cercado por seguranças particulares. O cachê era gordo: R$ 10 mil por um único dia de trabalho. Deu tudo errado. "Quando chegou em casa ele vomitou, fez cocô fora do lugar, não dormiu a noite inteira", diz a "mãe" de Charlie, a empresária Sandra Habib, representante da Aston Martin e da Jaguar no Brasil.

Chegava ao fim a carreira meteórica de "dog model" do pequeno cão, um west highland de cinco anos. "Ele saiu de casa ao meio-dia. Quando voltei do meu trabalho, às 21h, cadê Charlie? Como Charlie ainda não chegou? Ele só voltou de madrugada, à 1h", diz Sandra. "Graças a Deus ele não precisa disso, né, coitadinho."

Para combater o estresse de Charlie, Sandra pediu socorro à veterinária Daniela Cervelatti, de uma clinica especializada em tratamentos alternativos para animais como acupuntura, reike, massagem, quiropraxia, florais de Bach e homeopatia. "A dona Sandra disse que ele estava com diarreia, mas era só preocupação", diz Daniela.

Com a carreira interrompida, ele agora leva uma vida mansa. Uma vez por mês, faz massagem, reike, acupuntura e quiropraxia para prevenir problemas de saúde. A alimentação é equilibrada. "Come arrozinho, cenourinha, bifinho, franguinho, salmão. Proteína, carboidrato e legumes", diz Sandra.

Há duas semanas, Charlie embarcou em um jatinho particular com a dona, que viajou a negócios para França, China e Portugal (quando viaja de avião de carreira, ela escolhe companhias aéreas que aceitam que se leve cães em poltronas da primeira classe). Charlie foi, mas a cabeça ficou no Brasil. Em três meses, ele será papai pela primeira vez. A mãe se chama Cristal, uma west highland terrier de três anos.

Charlie e Cristal se conheceram nos bastidores da fama. Ela pertence ao treinador e agente dele, Luis Oliveira, da Alternativa's Dog Show, uma agência de cães-modelos que conta com um casting de cerca de 700 animais. São celebridades como Jackelino, o jack russel da atriz Gabriela Duarte, e os west highland terrier do cabeleireiro Celso Kamura, Alê e Donna, batizados assim em homenagem aos estilistas Alexandre Herchcovitch e Donna Karan.

O casal deve ter cinco filhotes, a média de uma ninhada dessa raça. Cada um deles deve ser vendido por R$ 3.000. "Há dez anos, quando essa raça foi para a mídia por causa da propaganda, o valor do filhote dobrou", diz Oliveira.

A estrela da agência de Oliveira é Wind, uma jack russel de 15 anos, desde os dois meses de idade na frente das câmeras. "Já fez mais de 2.000 campanhas", diz Oliveira, que financiou com os cachês da cadela boa parte do seu centro de treinamento de animais, num terreno de 6.000 m2 em Santo André.

Ela, que já fez filme da Xuxa, foi "garota-propaganda" da Bayer e fez um comercial da Skol, está hoje aposentada. Segundo Oliveira, o auge de sua carreira foi quando ela estampou a capa da revista "Focinhos", "a revista "Caras" dos cães".

Com a experiência, Wind adquiriu regalias. Quando estava na ativa, tinha direito a camarim exclusivo, "com água de coco e petiscos", e hora marcada para sair do set de filmagens.

"Ela tem fãs pelo Brasil. Já ganhou perfumes, caixa de joias, coleiras. Quando alguma empresa lança produto para cachorro, sempre manda para a Wind. Faz questão que ela use", diz Oliveira. Wind, que participava de shows de truques de animais, já fez até tarde de autógrafos. "A gente molhava a patinha num carimbo e colocava sobre uma foto."

Estopinha, de dois anos, não dá autógrafos, mas tem uma trajetória parecida com a de algumas top models. Nasceu pobre, sem raça definida, até ser descoberta em um abrigo de animais pelo adestrador Alexandre Rossi, que apresenta com ela o quadro "Dr. Pet", do "Domingo Espetacular", da Record. Hoje, acompanha o dono em palestras que custam R$ 10 mil, mais passagem aérea e hospedagem. "Nas gravações, ela tem figurinista, que passa a roupinha e leva uma troca a mais, caso se suje."

Rossi tem um casting de cerca de 200 cães, alguns deles descobertos por meio do site de sua empresa, Cão Cidadão, que tem uma ficha de inscrição destinada aos que desejam ver seus animais em uma campanha. "Mas só dá para aproveitar 20%. Muitos cães não estão aptos para a carreira."

Há também o desgaste de imagem, comum na vida de modelos. "O cão que faz um trabalho marcante não é mais escolhido. A [propaganda da] Cofap foi tão marcante que ninguém mais quis usar a raça daschund [os salsichas] nas campanhas", diz o treinador Jayro Mattos Por causa da idade avançada e de tanto trabalhar, Wind hoje sofre de uma lesão na coluna. Faz esteira aquática regularmente na clínica de tratamentos alternativos de Daniela.

O clima do espaço é zen. Durante as sessões, que duram entre 20 minutos e uma hora, Daniela coloca o CD "Relaxing Your Dog" (relaxe o seu cão) com as canções "Controlando a Ansiedade", "Superando a Solidão", "Portal dos Sonhos" e "Nas Horas Difíceis". A terapia custa R$ 70.



Os gastos valem a pena no mercado dos modelos caninos. Para os animais que estão começando, o piso do cachê é de R$ 100. Mas os valores podem chegar a R$ 20 mil. "A média é R$ 3.000. Quando é só foto é mais barato, uns R$ 1.000, pois é mais rápido. Quando é longa-metragem é ainda mais barato, cerca de R$ 500."

O pessoal de cinema não tem muita verba. Tenho cota de quatro filmes por ano", diz Oliveira, da Alternativa's Dog, que agencia cerca de seis comerciais por mês.

O empresário já recebeu algumas propostas indecentes. "Clientes já me ligaram perguntando se eu não conhecia uma cadelinha limpinha, vira-lata, para o cachorro dele perder a virgindade". O serviço foi recusado".

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